
O Renascimento foi um marco na passagem entre a Idade Média para a Moderna. Surgiram nesse período importantes manifestações artísticas, culturas e científicas. É do início desta época a obra mais famosa de William Shakespeare, Hamlet, que narra o conflito interior do homem, suas inquietações, manifestadas na célebre frase: “ser ou não ser”.
Essa questão permanece nos tempos atuais. Podemos reconhecê-la em situações como qual caminho devo seguir, quais escolhas devo fazer, sejam elas nos âmbitos individual ou social.
Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman “vivemos em tempos líquidos, onde nada foi feito para durar”. Vivemos em um mundo globalizado, no qual as antigas referências são substituídas, onde tornamo-nos materialistas, consumistas, e os vínculos entre pessoas tornarem-se extremamente frágeis. A constante insatisfação, ansiedade, sensação de insegurança, o medo, são companheiros dos seres humanos.
Paradoxalmente, o progresso científico e tecnológico não nos conduziu a melhores condições de vida, apesar de ampliar o desenvolvimento, oportunidades e bem-estar para muitos. Surge um clamor por um novo humanismo, capaz de trazer o amplo entendimento sobre as questões atuais, e que permita a construção de uma nova era.
Mas como seria este novo caminho? O que precisamos começar a fazer, e o que deixar de fazer?
Percorri um trecho do Caminho de Compostela em 2013. Foi uma experiência marcante, e trago os aprendizados feitos no percurso de 160 quilômetros.
O primeiro aprendizado foi sobre direção. O caminho todo é sinalizado por setas indicativas de qual direção seguir. Na maioria dos casos nos traz conforto, e em situações de dúvida nos traz segurança. Lembro de uma máxima que diz que caso caminhássemos por mais de quinze minutos sem encontrar uma seta indicativa, deveríamos retornar até encontramos uma, e então corrigir a rota.
O segundo aprendizado foi sobre solidariedade. Todo o caminho é feito individualmente, mas os encontros são fundamentais. Ouvir de todas as pessoas que percorrem o caminho a saudação buen caminho, nos conforta, nos anima a superar o cansaço, e principalmente, nos lembra que somos um dentre muitos que percorrem o mesmo caminho.
O terceiro aprendizado nos traz a perspectiva que todos estamos a caminho. Um caminho de descoberta, de transformação em quem ainda seremos, e de que somos todos responsáveis pela construção de uma sociedade mais humana.
Que possamos encontrar meios de harmonizar nosso Pensar, Sentir e Querer, e reconhecer que estamos intrinsicamente ligados a todos que caminham conosco.
O conhecimento de si próprio e do mundo em que vivemos, são frutos da convivência que permite o desenvolvimento de todos.
Queres conhecer-te a ti próprio,
Olha no mundo para todos os lados.
Queres conhecer o universo,
Olha em todas tuas próprias profundezas.
Rudolf Steiner
José Vicente Barrella Teixeira
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